Chuva e redução do consumo mudam em um ano o status do País em relação à produção de energia elétrica O Brasil passou de uma crise energética que beirou a necessidade de racionamento, como ocorreu no início dos anos 2000, para potencial fornecedor internacional em um período de cerca de um ano. O motivo, entretanto, não é 100% benéfico: as chuvas ajudaram a encher os reservatórios das hidrelétricas, mas parte das sobras é derivada da queda no consumo provocada pela alta dos preços.
Entre janeiro de 2015 e março de 2016, o consumidor brasileiro estava pagando os custos de acionamento das usinas termelétricas com as bandeiras tarifárias vermelha e amarela. O sistema foi criado para custear as termoelétricas, que produzem energia elétrica por um valor mais elevado em momentos de escassez hídrica. O grande volume de chuvas de 2016 permitiu o desligamento das termelétricas e a chegada da bandeira verde, mas o aumento de custos do ano passado, aliado à crise econômica, fez com que a indústria reduzisse o consumo de energia elétrica. Esse cenário não só levou ao aumento da oferta de energia como levou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a considerar vender as sobras para a Argentina, que tem sistemas interligados com o Brasil.
Como os sistemas são interligados, há uma espécie de escambo, e quando há uma falta de abastecimento pontual, a energia gerada no Brasil é transferida para a Argentina e vice-versa. Porém, a proposta de Luiz Eduardo Barata, diretor-geral da ONS, é firmar contratos de venda nos próximos anos. A ideia ainda depende de estudos da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e do Ministério de Minas e Energia para análise da viabilidade dessa transação. Mateus Tolentino Gonçalves, sócio da Prime Energy, empresa do ramo de comércio de energia elétrica no Mercado Livre de Energia de Energia, afirma que a diferença entre o consumo previsto para 2016 e o que realmente foi consumido resulta em uma sobra de 5 mil megawatts médios (MWm). Há um ano o Brasil se preocupava com a possibilidade de racionamento de energia elétrica, devido a dois anos seguidos de poucas chuvas de verão e reservatórios vazios, entretanto, com a recessão econômica que se iniciou no ano passado, houve redução da produção industrial, o que resultou em redução do consumo de energia elétrica. Além disso, a elevação das tarifas das distribuidoras desestimulou o consumo tanto da indústria quanto das residências.
Gonçalves diz que isso gerou uma retração no consumo sem precedentes históricos. “De certa forma, o que ocorreu foi parecido com o que aconteceu em 2001, quando houve racionamento, com a diferença de que, naquela ocasião, a queda no consumo foi algo decretado, enquanto o quadro atual é resultado de fatores econômicos”, afirma. Ao mesmo tempo, desde julho de 2015, o El Niño elevou o volume de chuvas, principalmente na Região Sul, aliviando o sistema energético como um todo. Além disso, em janeiro foram registradas chuvas torrenciais no País todo, o que elevou os níveis nos reservatórios. “Isso gerou uma redução do preço de curto prazo, ou seja, possibilitou o processo de desligamento das termelétricas.” Esse conjunto de fatores provocou a sobra de energia no sistema, o que beneficia a grande indústria, permitindo-lhe migrar do mercado cativo para o Mercado Livre de Energia de Energia elétrica. Ainda assim, esse volume disponível está levando o governo a buscar alternativas para reduzir as sobras. “Provavelmente, esse assunto da venda de energia para a Argentina é pegar os contratos que vão sobrar e passar para quem está precisando”, avalia.
Gonçalves acredita que a proposta levaria tempo para se concretizar, já que não há um trâmite regulatório. Se for necessário criar um, ele deve passar pelo Congresso Nacional antes de começar a vigorar.
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