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Por que o sol ainda não é a principal fonte da matriz energética do Brasil?

Com 55% de participação, a fonte hídrica é predominante na matriz energética brasileira, colaborando para que ela seja, em sua maior parte, composta por fontes renováveis. Seguidas pela eólica (14,8%) e a biomassa (8,4%), essas fatias representam a importância do compromisso com a valorização das energias alternativas, capazes de auxiliar no desenvolvimento responsável do país. Entre as fontes não renováveis, o gás natural responde por 9%, enquanto o petróleo e o carvão mineral somam, respectivamente, 4% e 1,75%.

Mas, embora o Brasil tenha grande potencial para a energia solar, com alta incidência de sol durante o ano todo, você já se perguntou por que essa fonte ainda não domina a matriz energética? É a partir dessa questão que iremos nos aprofundar para compreender a importância da diversificação da matriz energética no país.

A centralidade hídrica

A predominância da energia hidrelétrica na matriz energética brasileira não está relacionada a um único fator. Pelo contrário, ela pode ser melhor explicada por uma combinação de fatores que são históricos, geográficos e também sociais.

Fatores Geográficos

  • Rios e corpos d’água: O Brasil possui uma vasta rede de rios, incluindo grandes bacias hidrográficas como a do Rio Amazonas, Rio Paraná, e Rio São Francisco. Isso oferece um enorme potencial para a geração de energia hidrelétrica.
  • Topografia Favorável: Além da abundância de água, a topografia de regiões como o Sudeste e Sul facilita a construção de represas, onde a diferença de altura (desnível) entre o reservatório e a casa de força contribui para a geração de energia.

Fatores Históricos

  • Desenvolvimento Econômico: A partir das décadas de 1950 e 1960, o Brasil começou a investir pesadamente em infraestrutura energética para suportar a industrialização do país. Como as usinas hidrelétricas ofereciam uma solução limpa e de baixo custo a longo prazo, elas se tornaram o foco do planejamento energético.
  • Projetos de Grande Escala: Usinas como Furnas (1963) e Itaipu (1984), uma das maiores do mundo, foram construídas durante períodos de crescimento econômico e expansão industrial. Essas obras foram marcos de grandes investimentos em infraestrutura.

Fatores Sociais e Políticos

  • Políticas Governamentais: Durante várias décadas, o governo brasileiro incentivou fortemente o uso de hidrelétricas como forma de garantir energia para o desenvolvimento do país. A criação de estatais como a Eletrobras e a Cemig ajudou a coordenar esses projetos.
  • Baixo Custo Inicial de Geração: Apesar dos custos elevados de construção, as hidrelétricas oferecem energia a um custo marginal baixo após a instalação, o que é atrativo para um país em desenvolvimento que precisa de grandes volumes de energia a um preço competitivo.

Sustentabilidade

  • Baixa Emissão de Gases Poluentes: Historicamente, as hidrelétricas foram vistas como uma solução mais sustentável em comparação às termelétricas, por dependerem de uma fonte renovável e emitirem menos gases de efeito estufa.

Crises Energéticas

  • Respostas a Crises de Oferta: Ao longo de crises energéticas, como a do apagão de 2001, o Brasil reafirmou a importância das hidrelétricas, mas também começou a diversificar suas fontes, buscando reduzir a dependência dessas usinas em momentos de seca.

Mesmo com a diversificação recente, especialmente com a inserção de energias renováveis como a solar e eólica, a fonte hídrica continua a ser a espinha dorsal da geração elétrica brasileira.

 

Matriz energética do país nos dias de hoje

  • Hidrelétrica: 60% a 65%
  • Termelétrica (gás natural, carvão, biomassa, óleo): 20% a 25%
  • Eólica: 12% a 13%
  • Solar: 5% a 6%
  • Nuclear: 2%

Fonte ANEEL.

Marcos importantes para o desenvolvimento da energia no país

  • 1883Primeira usina hidrelétrica do Brasil e da América Latina, a usina de Marmelos, em Minas Gerais, é inaugurada, marcando o início da geração de eletricidade no país.
  • Décadas de 1930 a 1960 – Expansão da geração hidrelétrica com grandes projetos como Usina de Paulo Afonso e Furnas, consolidando a energia hídrica como a principal fonte.
  • Década de 1970 – Com a crise do petróleo, o Brasil investe em diversificação, como biomassa e energia nuclear (Usinas de Angra 1 e 2).
  • Década de 2000 – Começa o crescimento da energia eólica e solar, impulsionadas por políticas de incentivo e queda nos custos de tecnologias renováveis.

A potência solar

A energia solar foi responsável por cerca de 18,2% da nova capacidade instalada no país, e desde o início de sua implementação, evitou a emissão de milhões de toneladas de CO2, tornando-se uma das principais ferramentas para a descarbonização da economia brasileira.

Os dados mais recentes sobre a energia solar no Brasil mostram que a fonte já atingiu 47 GW de capacidade instalada em 2024, liderando a expansão da matriz elétrica nacional.

Desse total, 31,8 GW são provenientes da geração distribuída (GD), que inclui sistemas instalados em telhados, fachadas e pequenos terrenos, utilizados principalmente por consumidores comerciais e residenciais.

A GD tem sido um motor importante para a democratização do acesso à energia limpa, especialmente para empresas que buscam economizar e reduzir a dependência da rede elétrica tradicional.

Assim, é provável que a energia solar continue a assumir o protagonismo no crescimento da matriz energética brasileira nos próximos anos, especialmente pela combinação dos seguintes fatores:

Crescimento Sustentado

A energia solar tem sido a fonte que mais cresce na matriz energética do Brasil nos últimos anos. Em 2024, ela já lidera a expansão, com mais da metade da nova capacidade instalada no país vinda de usinas fotovoltaicas​.

Incentivos Regulatórios

O governo e a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) têm oferecido incentivos fiscais e políticas que favorecem a instalação de sistemas de geração distribuída (GD), o que facilita a adoção de energia solar por consumidores residenciais e empresariais. Esse apoio deve se manter ou até se intensificar nos próximos anos.

Sustentabilidade e Descarbonização

Com a crescente pressão global por sustentabilidade e redução de emissões de carbono, o Brasil tem metas de descarbonização que dependem da ampliação das fontes renováveis. A energia solar é uma solução chave para reduzir a dependência de fontes fósseis e hidrelétricas, principalmente em períodos de seca.

Demanda Crescente de Empresas e Residências

Cada vez mais, empresas e consumidores buscam a redução de custos e maior independência energética. A energia solar permite maior previsibilidade no orçamento, já que a energia gerada é livre das oscilações tarifárias, como bandeiras vermelhas.

Potencial Inexplorado

Apesar do crescimento, o Brasil ainda tem um enorme potencial inexplorado para a energia solar. Dados mostram que o país tem um dos maiores índices de irradiação solar do mundo, o que torna a expansão dessa fonte extremamente viável e economicamente atrativa.

Esses fatores, aliados à contínua queda no preço da tecnologia e ao crescente interesse de investidores, indicam que a energia solar deve continuar liderando o crescimento da matriz energética brasileira nos próximos anos.

Caminhos para a transição energética

Em 2024, o Brasil alcançou uma capacidade instalada de 200 GW de geração elétrica, dos quais 84,25% vêm de fontes renováveis. Esse cenário reflete o protagonismo do Brasil na transição para fontes de energia mais limpas, algo essencial tanto para o desenvolvimento sustentável quanto para a segurança energética do país​.

 

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